Foto e Grafia: Irka Barrios
Desliza barranco abaixo, choca-se com alguns pedregulhos, raízes, galhos secos e rola de encontro ao leito do rio. A menina chora a perda do companheiro de sono e brincadeiras, mas de nada adianta. Porque os rios, tanto quanto as pessoas, buscam o momento de ser foz.
O ursinho boia, acompanhando as águas esverdeadas de curso tortuoso. A correnteza, nada domesticável, por vezes se enfurece. Atira-se contra pedras de tamanhos diversos, forma cascatas de alturas vertiginosas, amedronta. Em outras paragens torna-se traiçoeira, formando redemoinhos que prendem o bicho de brinquedo, forçando-o a girar sobre si sem encontrar saída. Ou esperança.
Mas o rio não sabe que o bonito é a jornada, e teima. E quando chega ao final, ao sonhado deságue, não há meio de retroceder. O tempo se esgotou. Então as águas voltam à mansidão porque não há remédio que recupere o que ficou para trás.
O rio muda, mas muda também quem espera.
Na chegada, a distância se faz ainda mais cruel. Exausta pelas exigências do percurso, a mão não alcança o ursinho. E sobre as águas, resta a sombra da menina que um dia foi.
. Foto por Irka Barrios |
